Novamente voltamos o nosso olhar no começo do ano para uma inovação no mercado. A bola da vez é o ChatGPT, a AI Generativa da OpenAI. Tem muita gente no mercado assustada com o que vem por aí com o surgimento dessa nova ferramenta. Já se fala em revolução tecnológica, mudanças de paradigmas e esvaziamento de postos de trabalho.

Eu gostaria de convidar o leitor desse texto para respirar fundo e analisar essa inovação com mais cautela. Vamos todos ficar atentos a mudança, mas não apocalípticos pelo que ela pode significar. Li alguns textos que me ajudaram a refletir com mais profundidade e calma sobre o que pode realmente significar ter uma inteligência artificial generativa nos ajudando nas buscas de informação e para onde isso pode nos levar no futuro próximo.

O tempo de implementação de uma inovação

Antes de mais nada, vale trazer alguns dados históricos para a conversa. Em 2005, pouco menos de 20 anos atrás, menos de ¼ da população brasileira tinha acesso a internet – sim, existia a possibilidade de desconexão nessa época – e hoje o nosso país possui mais smartphones que pessoas. Isso quer dizer que nos últimos 20 anos, saímos de um cenário onde a conexão a internet, compras online e gadgets individuais eram promessas e passaram a ser realidade. Hoje é inviável pensar o futuro de um negócio sem considerar o ambiente digital como um lugar para se estar. Isso está dado, não tem mais volta. Em 2023 não dá para ir contra o modelo de digitalização dos negócios, por menor que seja a sua presença no digital, em algum nível, seu negócio precisa estar online. Porém, essa evolução não aconteceu do dia para a noite, para chegarmos até aqui muito foi discutido e modificado.

Quando falamos de implementação de novos hábitos e adoção de novas ferramentas, como é o caso do ChatGPT em si, vale comparar com inovações passadas e entender para onde elas foram. Vou usar um exemplo clássico para quem, assim como eu, pegou todo o percurso do advento até a popularização das redes sociais. O Snapchat mudou a forma como nos relacionávamos com o conteúdo nas redes sociais. A inovação era colocar um material efêmero, com ordem cronológica e que desaparecesse após 24h. A grande inovação aqui era que, mesmo com a timeline das redes sociais, o usuário não tinha um acompanhamento cronológico correto dos conteúdos de seus seguidores e o Snapchat deu um jeito nisso. Com o passar do tempo o Instagram acoplou o modo stories em sua plataforma e isso barrou o crescimento do Snapchat. O mesmo pode ser que aconteça com Be Real e TikTok Now… e por que não com o ChatGPT e o Bard do Google? Aliás, já estamos acostumados a usar o buscador do Google, pode ser que essa inovação da Alphabet mude a forma como vamos usar a ferramenta de busca, mas não mude nosso canal. É uma grande iniciativa em direção e um novo modo de usar a ferramenta e modificar o hábito de consumo.

Muito cuidado com os alarmistas, mas fique atento as mudanças de direção

Diante desse cenário, o ideal é se manter atento as mudanças. Muitos dos que já usaram o ChatGPT nos dizem que ele tem boas qualidades como uma escrita bastante coerente, rápida resposta e cruzamento de algumas informações, mas também tem limitações – como qualquer ferramenta – e ainda é muito complicado obter respostas menos generalistas sobre as coisas. E sabemos que, no dia a dia, o cenário é complexo e exige mais referência e criatividade para gerar soluções singulares. Ele pode funcionar como um ponto de partida para nos dar pistas de onde começar a cavar para encontrar as respostas, mas boa parte do trabalho é saber formular as questões e entender como extrair insights únicos e necessários para usar nos negócios.

Outro ponto que devemos ficar atentos são as estratégias de SEO aplicado aos materiais online, uma vez que a AI Generativa nos dá uma resposta enxuta e coerente, o que vamos fazer para nos ranquearmos em possíveis indicações de “mais informações”? Afinal, se a ferramenta for implementada na busca do Google, certamente ele vai atrelar a resposta a desdobramentos de pesquisas tradicionais como forma de gerar acessos e manter a dinâmica de anúncios. Talvez tenhamos que repensar a forma como produzir para sermos melhores ranqueados nesse novo modelo. Como ouvi esses dias no podcast Mídia e Marketing do UOL: certezas envelhecem!

O que vem por aí?

Por hora, é importante entender que o movimento sincronizado há anos é de tornar a conectividade mais fluida. O ChatGPT é parte disso. Bem como a Alexa nas nossas casas, os smartphones nos nossos bolsos e a tecnologia touchscreen em todas as superfícies. O ChatGPT é uma humanização da forma como vamos buscar informação e do conteúdo como recebemos. Aos poucos a tecnologia fica cada vez mais e mais pervasiva. Como indivíduo, isso pode significar alguns problemas, mas isso é assunto para outro texto, já para os negócios, é hora de entender como vamos adotar esse tipo de ferramenta e como essa tecnologia vai impactar o nosso mercado.

Sem pressa, mas sem passividade. Aos poucos. Pensando estrategicamente e colocando ferramenta onde faz sentido.

Cássio Martinez é publicitário e COO da VOR – Inteligência Coletiva. Especialista em Inteligência de Marketing e Big Data (ESPM) e em Semiótica Psicanalítica (PUC). Atualmente é aluno do mestrado em Comunicação e Consumo da ESPM e pesquisa a relação da comunicação com as chamadas “Plataformas Digitais” na contemporaneidade.