Esse semestre eu tive a oportunidade de visitar a agência Purpple com alguns dos meus alunos do curso de Publicidade e Propaganda do primeiro semestre da FECAP. Nesse dia, a head de planejamento, que carinhosamente se dispôs a conversar com os alunos, compartilhou um pensamento muito interessante sobre o que é a arte de criar as estratégias: planejar é entender as regras de como vamos ganhar o jogo (ou a guerra – ou algo assim – perdoem a licença poética).
Isso me fez fazer uma conexão com algo que vi há muito tempo em alguma palestra do Tiago Mattos, criador da Perestroika, Aerolito e outros negócios que invejo pela sagacidade (inveja boa, claro). Ele mostrou um desenho que diz muito sobre o que vamos falar hoje.
Eu fiz essa conexão, desses dois episódios de conhecimento, para tentar refletir sobre o que significa para o planner o processo de planejamento. Em geral, planejar requer conhecer profundamente um ecossistema complexo, que tem suas leis, suas regras ditas e também as não ditas, sua cultura bem estabelecida com valores claros. Entrar nesse contexto, pensando “como ganhar o jogo” não é uma tarefa fácil, principalmente porque tem muitas outras empresas e pessoas que já estão trilhando esse caminho. Ou seja, o mercado já estava lá antes de você chegar, não é você que vai, necessariamente, mudar o curso. Por isso, o desafio é ser competitivo e tentar absorver o máximo de conhecimento para não cometer deslizes.
Aqui na VOR nós criamos projetos para mercados muito singulares nos últimos anos: negócios locais, grandes varejistas de construção, marcas globais de montadoras de veículos, institutos culturais, associações. São muitos universos diferentes e para quem gosta de “aprender” é uma construção estimulante, mas também desafiadora, afinal, construir um novo plano requer uma nova “camada” de aprendizado para o nosso triângulo acima (lembrando que essas ideias são do Tiago Mattos).
Com essa nova “camada”, você aumenta tanto o campo de conhecimento, quanto o campo do que você entende que existe, mas não conhece, e até os limites do que não faz ideia que existe. Isso, invariavelmente, aumenta a nossa carga cognitiva, ao estimular a criatividade e a curiosidade, temos que lidar com o processo completo que vem com ele, no meu caso a ansiedade e a escolha de caminhos.
O conhecimento e o desconhecimento andam sempre de mãos dadas. Li certa vez uma matéria que falava sobre como o nosso cérebro é um “supercomputador” e isso é uma realidade, mas até os supercomputadores têm capacidade de armazenamento e processamento. Mesmo com a explosão das Inteligências Artificiais em todos os setores, nunca deixaremos de aprender e não podemos nos furtar a tomar decisões nas quais acreditamos e confiamos: parte com feeling, parte com dados. Nada é mais humano que isso.
Para quem, assim como eu, atua nas frentes de planejamento, não tem caminho para “ganhar o jogo” se não for, de fato, vestindo o uniforme e entrando na partida. Tem uma satisfação enorme na construção dos projetos e na idealização de universos únicos. Planejar é, antes de tudo, aprender a aprender e aplicar o que se aprende, entendendo a nossa capacidade limitada (e humana) de tomar decisões, mesmo que elas sejam absolutamente baseadas em dados, inteligências artificiais e com o auxílio de ferramentas poderosas.
Tem uma frase do escritor de ficção científica, o polonês Stanislaw Lem que diz: “A sociedade não pode desistir do fardo de decidir o próprio destino, abdicando dessa liberdade em prol do regulador cibernético”. E com isso quero dizer que, mesmo com a IA, não vamos conseguir abrir mão de fazer escolhas.
No fim, é mais sobre saber caminhar na mata adentro do que pegar caminhos traçados. O ecossistema está lá, a gente só precisa construir dali pra frente. É o que temos que fazer.
Planejar, então, é isso:
Entrar com respeito em cada novo contexto, com coragem para aprender, disposição para escutar e responsabilidade para decidir.